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2/12/2013 

 

Parece insólito, mas está acontecendo. Um blog intitulado Escola sem partido está encabeçando uma campanha de perseguição ideológica a uma professora da FATEC de Barueri. O blog, coordenado por um advogado chamado Miguel Nagib, acusa a professora Cléo Tibiriçá de colocar em prática um plano de ensino para criar a maior aversão possível a tudo o que não se identifique com uma visão esquerdista ou progressista da sociedade, da cultura, da economia e da história.

O blog lista os livros, matérias na grande imprensa e músicas que a professora utiliza em suas aulas de Comunicação e Expressão e que estariam sendo utilizados pela docente para fazer doutrinação ideológica nos alunos. Entre os citados, estão:

 

- O prefácio do livro A Era dos Extremos, do historiador marxista Eric Hobsbawn;

- Encontro com Milton Santos ou o mundo global visto do lado de cá, documentário de Silvio Tendler sobre o geógrafo marxista não ortodoxo Milton Santos;

- Direitos Humanos para humanos direitos, artigo do jornalista Matheus Pichonelli, publicado na revista Carta Capital;

- No Brasil a pobreza tem cor, artigo do jornalista e vice-presidente do Partido Socialista Brasileiro Roberto Amaral, publicado na revista Carta Capital.

- Tinha que ser preto mesmo!, texto do jornalista Leonardo Sakamoto;

- Capitães de Abril, filme sobre o golpe militar que pôs fim ao regime salazarista em Portugal;

- Tanto Mar, canção de Chico Buarque sobre o mesmo golpe;

- Entrevista do filósofo Edgar Morin no programa Roda Viva.

 

Em entrevista à  revista Carta Capital, a presidente do Sinteps, Silvia Elena de Lima, afirma: Chamar este material de subversivo é uma das histórias mais ridículas que já ouvi na minha vida.

Silvia frisa que o Sinteps considera a campanha contra a professora uma afronta e já cobrou uma atitude da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa de São Paulo sobre o caso, além de disponibilizar sua assessoria jurídica para ajuizar uma ação na Justiça por assédio contra ela.

Os textos criaram um incômodo porque fazem as pessoas pensarem. Não tinha nenhuma leitura proibida. Não tem nada que precisa ser queimado, pelo contrário: são autores de primeira linha, que todos deveriam conhecer, assinalou a presidente do Sinteps.

Para a professora Cléo, Nagib fez uma seleção parcial e descontextualizada dos textos que ela leva a debate na sala-de-aula. Ela informa que já debateu textos de revistas de vários matizes ideológicos, inclusive de Veja, com os alunos.

 

A volta do marcartismo e a caça à s bruxas no século 21

Um passeio pelo blog Escola sem partido nos mostra um apanhado de opiniões que seriam apenas ridículas e motivo para boas risadas, mas a história nos mostra que não é bem assim. Na década de 50, em nome de acabar com o perigo comunista nos Estados Unidos, o senador Joseph Mccarthy liderou um movimento - o macartismo - que estimulou a perseguição a artistas, educadores, atletas e outros que ousassem expor ideias minimamente progressistas.

Em seu blog, o advogado Miguel Nagib faz ameaças explícitas à  professora da FATEC de Barueri. Ele informa que está enviando cópias dos artigos escritos por ele sobre a professora para os seus superiores hierárquicos: coordenador do curso, diretor da faculdade, superintentende do Centro Paula Souza, secretário de Educação (esqueceram de lhe dizer que as ETECs e FATECs são subordinadas à  Secretaria de Desenvolvimento) etc.

 

A reação da docente

A professora Cléo enviou resposta ao blog Escola sem partido. Num dos trechos, ela comenta a afirmação de Nagib, de que publicaria uma série de cinco artigos sobre as aulas da docente da FATEC, a menos que ela demonstrasse não serem verdadeiros os fatos.

O senhor, seus chefes e seus seguidores responderão judicialmente caso tentem vincular meu nome à  sua campanha de bullying ideológico, declara a professora.

 

Assine a moção

O Sinteps conclama os trabalhadores do Centro Paula Souza a repudiarem esse tenebroso caso de perseguição ideológica, própria dos tempos nefastos da ditadura militar. Se você quer se somar a esse repúdio e apoiar a defesa da professora, envie e-mail para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo., informando que assina a moção a seguir.

 

 

 

Moção

Não ao patrulhamento ideológico.

Liberdade de expressão nas escolas

 

Os funcionários e professores das escolas técnicas (ETECs) e faculdades de tecnologia (FATECs), abaixo assinados, somam-se ao Sindicato dos Trabalhadores do Centro Paula Souza (Sinteps) para repudiar a campanha fascista e obscurantista do blog Escola sem partido contra a professora Cléo Tibiriçá. Defendemos o direito de cátedra e de livre expressão de todos os profissionais da instituição e do conjunto da educação brasileira.

Qualificamos a campanha como reacionária e lembramos aos partidários do blog Escola sem partido que a sociedade não aceita mais nenhum tipo de perseguição ideológica e que o tempo da santa inquisição acabou há centenas de anos.

São Paulo, 2 de dezembro de 2013.