O Edifício Paula Souza, prédio histórico localizado na Praça Tiradentes, em São Paulo, pode ser cedido a organizações privadas (Faculdade Zumbi dos Palmares e Grupo Carrefour), conforme decisão anunciada pelo governo Tarcísio de Freitas. O prédio serviu de sede para a administração do Centro Paula Souza por 40 anos, mas se encontra em condições precárias e interditado há cerca de dois anos, após a mudança da direção para outro local. 

A destinação definida pelo governo estadual contraria o desejo de toda a comunidade, que espera ver ali, por exemplo, um espaço que preserve a história da instituição e da educação tecnológica pública no estado de SP.

O Edifício Paula Souza integra o campus da Faculdade de Tecnologia de São Paulo (FATEC), onde funcionam também a Escola Técnica São Paulo (ETESP) e a Unidade de Pós-Graduação, assim como o Sindicato dos Trabalhadores do Centro Paula Souza (Sinteps), a Associação de Docentes das FATECs (ADFatec) e o Centro Acadêmico (CA) XXIII de Abril. 

Projetado pelo escritório do renomado arquiteto Ramos de Azevedo ainda no século 19, o edifício sediou inicialmente a Escola Politécnica da USP e tem muita história para contar. Em 1969, com a criação do Centro Paula Souza (Ceeteps), foi sede da instituição, local de laboratórios e da sala da Congregação da FATEC/SP. Em 2002 e 2016, respectivamente foi tombado pelo CONDEPHAAT e CONPRESP, em reconhecimento à sua importância como bem cultural.

Vizinhos e entidades se unem

Um grande abraço simbólico ao edifício ameaçado culminou as atividades realizadas nas dependências do campus na quarta-feira, 20/9/2023. Antes disso, entidades vizinhas – Museu da Língua Portuguesa, Arquivo Histórico Municipal, CAPS do Bom Retiro, Bom Retiro é o Mundo, entre outras – participaram de um ato e leitura de manifesto. Estavam presentes professores da graduação e pós-graduação, Sinteps, centro acadêmico, diretório acadêmico, UEE (União Estadual dos Estudantes) etc.

A leitura do manifesto ficou a cargo do professor Josué Souza de Gois, diretor da FATEC/SP.

“Esse é um prédio histórico, um patrimônio público que não pode ter outra destinação que não seja integrar o presente e a memória da educação técnica e tecnológica pública do estado de São Paulo”, destacou em sua fala a presidente do Sinteps, Silvia Elena de Lima.

Indignação

Desde a transferência da Administração Central do Ceeteps para o bairro de Santa Ifigênia, o Edifício Paula Souza vinha sendo reivindicado oficialmente pela FATEC e pela ETESP para a ampliação de vagas e criação de noivos cursos. Não houve retorno ao pedido.

Em maio deste ano, sem qualquer consulta à comunidade, um lacônico comunicado da Superintendência informou a decisão do governo Tarcísio de Freitas de ceder o Edifício Paula Souza para duas organizações privadas (Faculdade Zumbi dos Palmares e Grupo Carrefour), com o objetivo de abrigar um futuro “Museu da História do Negro”.

O manifesto lido durante o ato em 20/9, resume o significado da cessão do Edifício Paula Souza à iniciativa privada:

• apagar a história e a memória do ensino de engenharia e da tecnologia que definiram a grandeza do Estado de São Paulo,
• privar estudantes trabalhadores de novas oportunidades de acesso a uma educação pública de qualidade, comprometida com a mobilidade social, com o respeito à diversidade e o acolhimento de diferentes parcelas da população.
• a renúncia do Governo do Estado de São Paulo de seu patrimônio cultural e de sua responsabilidade de preservação de bens públicos, e, principalmente, de seu compromisso com o ensino público.

Manifesto conclama

Ao final do texto, o manifesto conclama:

O Carrefour, para que não utilize um bem cultural público para capitalizar sua imagem frente à população negra, para que se retire desse projeto e considere outras formas de compromisso social, como o oferecimento de bolsas para a permanência de inúmeros estudantes negros na FATEC/SP que precisam conciliar estudo e trabalho.

A Faculdade Zumbi dos Palmares, para que venha a se somar na defesa da história da educação técnica e tecnológica, na defesa da escola pública e buscar alternativas para a realização de seus projetos e atividades culturais, para as quais poderá sempre contar com o nosso amplo e irrestrito apoio.

O governador Tarcísio de Freitas, para que repense o impacto de suas ações, pois renunciar ao Edifício Paula Souza significa, por parte do governo do estado de São Paulo, significa renunciar ao patrimônio cultural e de sua responsabilidade de preservação de bens públicos, e, principalmente, de seu compromisso com o ensino público e gratuito.

Entre na campanha: Abaixo-assinado

As entidades signatárias do manifesto lançaram um abaixo-assinado contra a cessão do Edifício Paula Souza à iniciativa privada. Você pode participar entrando no link

Abaixo-assinado · Diga não à entrega do Edifício Paula Souza à iniciativa privada · Change.org