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Debate sobre saúde mental apontou relevância da gestão democrática nas unidades para um ambiente de trabalho saudável

“Quanto retornamos à sala de aula após dois anos tão atípicos como estes da pandemia, já não somos a mesma pessoa. E é natural que seja assim.”

A frase é de Tânia Vendrasco, uma das debatedoras na live sobre “Saúde mental dos trabalhadores no retorno da pandemia”, promovida pelo Sinteps em 20/9. Docente da ETEC Lauro Gomes e psicóloga clínica e social, ela abordou os vários aspectos relacionados à saúde mental dos/as professores/as e funcionários/as do Centro Paula Souza em meio às reflexões suscitadas pelo ‘Setembro Amarelo’, mês dedicado mundialmente à prevenção ao suicídio.

A live contou também com a presença de Fernanda Lou Sans Magano, psicóloga e diretora do Sindicato dos Psicólogos no Estado de São Paulo, e a apresentação de Silvia Elena de Lima, presidente do Sinteps.

“Em 2022, quando os piores momentos da pandemia de Covid-19 parecem ter ficado para trás, embora ainda haja motivos para preocupações e cuidados por parte de todos e todas, o Sinteps considera importante refletir sobre o momento atual e como ele impacta a saúde mental dos trabalhadores e das trabalhadoras”, disse Silvia ao apresentar as expositoras.

“É evidente que a saúde mental ficou abalada pela pandemia. Tivemos mais cobranças para nos adaptarmos ao trabalho à distância, muitas vezes sem acesso às tecnologias necessárias, sofremos com a ausência da educação presencial, as pressões governamentais pelos resultados. Isso sem falar na postura negacionista de alguns governantes, que passaram a atacar o serviço público quando mais a população precisava dele”, destacou Fernanda.

Tânia lamentou a ausência de um protocolo emocional nas escolas. “Falamos apenas do protocolo sanitário, sem lembrar do emocional. Depois de tanta vulnerabilidade para dar conta do ensino online, muitas vezes acompanhada pela dor e pelo luto de perder pessoas queridas para a Covid, era e continua sendo essencial atentar para o aspecto psicológico, preparar e ancorar o retorno presencial”, ponderou.

Para Tânia, a gestão democrática da escola é fundamental para dar conta destas demandas. “O gestor precisa estar aberto ao diálogo, para ensinar e aprender, criar oficinas, rodas de conversa, atividades lúdicas, enfim, formas de aproximar a comunidade e criar canais de escuta e troca”, apontou.


O cenário que nos cerca

Fernanda lembrou o quanto o tema da saúde mental ainda é tabu em nossa sociedade. “Temos dificuldade na abordagem e no enfrentamento, pois envolve subjetividades e questões emocionais de cada um.” Lembrando que as doenças psíquicas têm causas múltiplas – como as questões biológicas, histórico familiar, uso de bebidas e fatores estressores diversos – ela fez questão de somar a elas outros fatores que perpassam o cenário social, como a ameaça do desemprego, os ataques ao funcionalismo, a violência. “Temos que estabelecer um recorte transversal com questões de gênero, raça e outros. São tantas as mazelas e ataques que sofremos, que o trabalho vai se tornando também razão de adoecimento e não de prazer e de vida.”

Sem descartar os fatores individuais, Tânia também ressaltou o peso dos externos. “As condições em que o indivíduo está inserido podem gerar depressão e outros males psíquicos.”

As duas expositoras apontaram a via coletiva como essencial para o enfrentamento e a superação dos problemas relacionados à saúde mental. “Somar forças com os colegas de trabalho pode reforçar nossa sensação de pertencimento social”, frisou Tânia, voltando a citar o papel que a gestão democrática da unidade pode cumprir neste sentido.

Sobrecarga de trabalho e outras angústias

Durante a live, as expositoras responderam a várias perguntas previamente enviadas. Várias delas eram oriundas de docentes, relatando esgotamento diante das cobranças constantes a que estão submetidos, pela inclusão de cada vez mais ferramentas para avaliação e pela extensa burocracia que lhes é cobrada. “Sinto que o tempo que eu dedicava às aulas se resume cada vez mais à burocracia que o Centro impõe, parece que meu trabalho enquanto professor fica em segundo plano e isso me entristece”, diz um docente numa das perguntas.

Para Tânia, o fato de o professor do Centro Paula Souza sentir-se um burocrata diz respeito à lacuna de profissionais de apoio. “As nossas escolas estão ficando sozinhas, sem reposição dos funcionários que estão se aposentando, e isso gera mais sobrecarga ao docente, que passa a não ter mais tempo para o essencial, que é compartilhar e sonhar com seus alunos”.

“O exercício da profissão virou motivo de sofrimento e isso requer cuidados coletivos e também individuais”, disse pontuou Fernanda.

Tânia prosseguiu: “Se possível, busque iniciativas individuais, como a redução da carga horária e a ocupação do tempo com coisas saudáveis e prazerosas para si. Mas sempre lembrando que a nossa profissão é muito importante e temos que lutar coletivamente por ela e para que sejamos reconhecidos e valorizados.”

A presidente do Sinteps interveio neste ponto para lembrar que o Sindicato luta pela jornada de trabalho para os docentes, para que tenham melhores condições de trabalho e até para lhes dar tempo para discussões coletivas. Silvia convidou a categoria a participar ativamente das discussões de revisão da carreira, que podem ser acompanhadas no site do Sinteps.

Não conseguiu assistir ao vivo? Vale a pena conferir a gravação!

As duas horas de duração da live concentraram um debate muito rico, inclusive com a abordagem de questões mais específicas ligadas à saúde mental.

Vale a pena assistir, o link é https://www.youtube.com/watch?v=rNwbcr3BMf8 , ou se preferir assista abaixo: