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Reunião com Superintendência escancara razões alheias à segurança da comunidade na volta presencial. Comando reafirma greve sanitária e medidas para fortalecer o movimento

Reunido nesta terça-feira, 17/8, o Comando Geral de Greve (CGG) deliberou pela manutenção da greve sanitária da categoria e indicou o reforço em iniciativas para fortalecer o movimento. Como você verá em detalhes ao final desta matéria, a decisão foi tomada após o relato sobre a reunião ocorrida na véspera, entre uma comissão do Sinteps (membros da direção e representantes indicados pelo CGG) com a Superintendência do Centro.

Na reunião, que durou quase três horas, os representantes do Sindicato expuseram as razões para a deflagração da greve, evidenciando os problemas que cercam o retorno presencial neste momento:

- Razões sanitárias: o descontrole da pandemia, o baixo percentual de vacinação completa entre a população adulta no estado de SP (menos de 30%), a crescente circulação da variante delta, o não fornecimento dos EPIs adequados (notadamente, a máscara de pano), a falta de estrutura das unidades (pessoal escasso para a limpeza), o surgimento de muitos casos de contaminação após o retorno, ausência de testagem, entre outros.

- Razões pedagógicas: A volta às aulas presenciais desestruturou o bom andamento do ensino remoto, organizado a duras penas pelos professores e funcionários, inclusive às custas de recursos próprios. A tentativa de obrigar os docentes a fazerem o ensino “híbrido”, ministrando aula presencial e remota ao mesmo tempo (se necessário, pelo celular!), esbarra em questões trabalhistas (ninguém pode ser obrigado a trabalhar em dobro pelo mesmo salário), práticas e pedagógicas.

- Razões sociais: A maioria dos alunos não está comparecendo às aulas. Os que vão se deparam com a falta de merenda e até de água, uma vez que os bebedouros não devem ser usados por questões óbvias.

“Esse retorno atabalhoado e perigoso não só coloca vidas em risco, como também contribui para aumentar os índices de evasão. Vocês acham que está dando certo porque a maioria dos alunos não voltou”, resumiu Silvia Elena de Lima, presidente do Sinteps.

           

“As escolas têm que estar abertas”

A superintendente do Centro, professora Laura Laganá, compareceu à reunião com vários membros de sua equipe. Ela foi categórica ao afirmar que a principal razão para o retorno presencial agora é a preocupação com o aspecto “socioemocional” dos estudantes. “Os alunos estão cansados, não aguentam mais ficar na frente do computador. Temos que nos preocupar com o desempenho e a saúde mental deles”, disse.

Sobre a informação de que a maioria dos estudantes não retornou presencialmente, ela reafirmou: “Temos que manter as escolas abertas. Chegará o momento em que os alunos terão que voltar.”

Após ouvir do advogado do Sinteps, Augusto Bonadio, também presente à reunião, que a máscara exigida precisa ter certificado de aprovação (CA) para ser considerada EPI, de acordo com NR nº 6, a professora argumentou que a compra de máscaras tipo N95 é financeiramente “inexequível” para o empregador.

Os representantes de unidades presentes à reunião buscaram sensibilizar a superintendente. “Não nos sentimos seguros em desmontar algo que vem funcionando bem desde o início da pandemia. Nossa greve não é por salário, é pelo trabalho, para termos respeito e segurança”, disse o professor Helmer Alves, da ETEC Lauro Gomes. “Estamos em greve em defesa da vida. Causa-me tristeza e preocupação esta imposição pelo retorno presencial, pois não parece haver preocupação conosco, que estamos exauridos, mas seguimos trabalhando tendo a educação pública de qualidade como farol”, completou a professora Luciana Fisher, da FATEC Piracicaba. O professor Olésio Junho, da ETEC Júlio de Mesquita, corroborou a fala dos colegas.

 

Contaminação em tempos de retorno

 Para convencer os interlocutores do Sindicato de que o retorno presencial não representa risco nesse momento, assessores da Superintendência apresentaram os números de contaminação no Centro: no caso dos docentes, por exemplo, foram 1.260 casos do início da pandemia até o final de julho/2021; nos 12 primeiros dias após retorno, 56.

Feita uma conta rápida, os representantes do Sinteps frisaram que não havia nada a comemorar nestes números. O nível de contaminação (relação entre número de casos e de dias) salta de 2,65 nos primeiros 17 meses da pandemia para 5,6 nos primeiros dias pós-retorno.

Após novas críticas, a professora Laura declarou: “Se houver agravamento pela variante delta, de acordo com os estudos da Secretaria da Saúde e do governo, podemos recuar.” 

Nota da redação: No dia seguinte à reunião, o governador João Doria anunciou a dissolução do Centro de Contingência do Estado, formado por 21 especialistas (https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2021/08/infectologistas-manifestam-extrema-preocupacao-com-flexibilizacao-de-regras-contra-covid-19-em-sp.shtml). O grupo passará a ter sete membros. A medida drástica foi tomada após discordância dos especialistas quanto à decisão de Doria pela flexibilização. A maioria dos integrantes aconselhou o governador a adiar as medidas ao menos até que 80% da população adulta do estado estivesse vacinada com as duas doses da vacina, o que deve ocorrer até o fim do ano.

 

Números do ensino remoto, número de grevistas

A Superintendência reconhece que a situação atual do Centro é confusa. Além da adesão de parte dos trabalhadores à greve sanitária, há um conjunto de situações em que as aulas seguem sendo remotas.

A maioria das FATECs e algumas ETECs não retornaram presencialmente por decisão de suas direções, após constatações diversas (falta de estrutura, incapacidade de seguir o protocolo sanitário, recusa dos estudantes em retornar etc.). Muitas ETECs que voltaram já suspenderam as aulas seguidas vezes, devido à contaminação de trabalhadores e estudantes. Turmas inteiras de alunos recusam-se a comparecer às escolas.

 

Ensino híbrido à vista

A professora Laura comemorou a liberação de recursos (R$ 150 milhões) para equipar as salas de aula com TVs e equipamentos de informática. “Vocês verão uma transformação nas salas de aula, não de imediato, mas futuramente”, destacou.

A presidente do Sinteps pontuou que a modernização é necessária e bem-vinda, mas frisou a preocupação de que estas iniciativas tenham como destino a implantação de ensino híbrido nas escolas no pós-pandemia, precarizando e colocando em risco os empregos docentes e a qualidade da educação oferecida pela instituição.

 

Desconto do ponto

Após ser questionada se pretende descontar o ponto dos grevistas, a superintendente disse: “Óbvio que eu fico sensibilizada, não sou intransigente. Mas temos crenças. Temos consciência do que está acontecendo. O Centro foi reconhecido nacionalmente como uma das instituições que melhor fez a transição do presencial para o remoto. Exatamente pela greve ser diferente, a gente tem que refletir. Eu acredito que os grevistas estão trabalhando. Mas, se não dermos diretrizes, todos voltam para o remoto.”

 A afirmação deu margem a vários contrapontos por parte dos representantes do Sindicato:

- Se houver o desconto do ponto, as aulas dadas pelos grevistas não poderão ser contabilizadas pela unidade para o cumprimento do calendário letivo. Isso só ocorrerá após a reposição destas aulas, a partir de negociações entre Sindicato e empregador;

- Há muitos casos de turmas inteiras de alunos que se recusam a comparecer presencialmente e seguem no remoto. Eles serão todos reprovados?

Ao final, a professora Laura afirmou que irá analisar a situação com sua equipe e divulgará novo comunicado às unidades com os procedimentos quanto às aulas que vêm sendo dadas pelos docentes grevistas e o trabalho realizado pelos administrativos grevistas.

 

As deliberações do Comando Geral de Greve

Após informes da reunião com a Superintendência, os membros do Comando, reunidos em 17/8, indicaram a manutenção da greve sanitária, buscando fortalecê-la a partir de:

- Busca de apoios junto à comunidade externa (o Sindicato intensificará o contato com outras entidades sindicais e com a imprensa).

- Atuação dos grevistas nas Câmaras Municipais, em busca de moções de apoio, na imprensa local do município e junto aos pais. No site, em “Greve sanitária”, há materiais de apoio para todas estas iniciativas.

- Produção de um vídeo curto sobre as razões da greve, voltado ao público jovem.

- Produção de texto argumento sobre os prejuízos pedagógicos causados pelo retorno neste momento.

Tão logo seja divulgado o novo comunicado pela Superintendência, será convocada Assembleia Geral após 48 horas, como prevê a legislação.

 

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